O ano do ataque cerrado à inflação. A generalidade dos bancos centrais, adotaram uma serie de políticas restritivas para contrariar a elevada inflação, concretizando o ciclo mais agressivo de subidas das taxas de juro das últimas décadas. Apesar de ainda estar longe do nível pretendido, a inflação está a apresentar um forte abrandamento estimando-se que atinja a meta da FED e do BCE nos próximos 2 anos, pelo que 2023 deverá ficar marcado pelo fim do ciclo de subidas da taxa de juro. Há ainda a realçar o conflito armado no Médio Oriente, que ameaçou uma nova escalada no preço do petróleo, mas ao manter-se circunscrito a Israel e Palestina, este acabou por aliviar retirando novamente a pressão sobre a inflação.
Contra todas as expetativas, o ano vai terminar com a generalidade das economias a registarem um forte abrandamento, mas ainda com crescimento positivo. Apenas a Alemanha deverá terminar o ano em recessão, por trata-se de uma economia muito exposta ao setor industrial, e muito impactada pela subida dos custos com a energia do ano interior. Os restantes países da Zona Euro, especialmente os mais expostos a serviços, e menos dependentes da importação de energia do leste europeu, deverão evitar a recessão.
As generalidades dos ativos financeiros apresentaram performances positivas. No caso das ações esta performance esteve muito concentrada nas mega caps. Nas obrigações, apesar da volatilidade nas taxas de juro, o efeito carry, acabou por proporcionar a estabilidade pretendida no desempenho desta classe de ativo.
Fonte da imagem: Capital Group, Bloomberg Index Services Ltd., Standard & Poor's. Cada ponto representa o retorno anual do mercado acionista (representado índice S&P 500) e obrigacionista (representado pelo Bloomberg US Aggregate Index). Dados de 2023 atualizados pela Optimize.
Contra todas as expetativas, os EUA acabaram por escapar à recessão durante o último ano, estimando-se que termine 2023 em forte abrandamento, mas ainda no sentido positivo. Apesar da maioria dos analistas antecipar que a economia iria entrar em recessão durante este ano, devido ao ritmo de subida das taxas de juros por parte da FED, tais medidas acabaram por não ter o efeito tão célere como se esperava, com o ano a fechar com o mercado laboral robusto e sobretudo pelo PIB ainda a revelar um crescimento ligeiro da economia impulsionado pelo Plano Biden.
Acontece que estas políticas restritivas, na realidade americana, têm um efeito mais demorado a materializar-se na economia. O tipo de financiamento americano é maioritariamente de taxa fixa, pelo que, o aumento de taxa de juro não penaliza os contratos em vigor de crédito às empresas e das hipotecas das famílias. Por enquanto, afetou apenas atividade de novos créditos financeiros, bem refletidos na contração dos dados de evolução da atividade económica e de aquisição de novas casas. A atividade de crédito ao consumo também indicia um travão à economia interna. Por exemplo, o recurso ao “buy now, pay later” já se destaca como a solução ao consumo dos americanos. Neste ponto, consideramos que a economia americana poderá entrar em contração durante o primeiro semestre de 2024 , ao ritmo da necessidade de novos financiamentos a taxas de juro mais elevadas. Em consequência, a inflação terá um abrandamento mais célere e a FED poderá finalmente virar as fichas para a evolução do PIB, o que estimamos que traduzir-se-á em cortes das taxas de juro.
Fonte da imagem: federalreserve.gov
This not the time to start declaring victory. We will need to remain attentive to the risks of persistent inflation.
Christine Lagarde
Apesar da inflação na Zona Euro estar praticamente no patamar pretendido, entendemos ser muito cedo para assumir que esteja controlada, antecipando mesmo que possa ser agravada nos próximos meses, já que os últimos aumentos com os custos com energia, as revisões salariais e sobretudo as despesas com habitação deverão pressionar este indicador. Por outro lado, não vemos mais espaço para novas subidas das taxas de juro já que importantes países, como é o caso da Alemanha e de França estão a contrair. Pelo que antecipamos que estamos no ponto de inflexão das taxas de juro por parte do BCE. Estimamos que os países mais ocidentais vão manter um crescimento positivo, e a Alemanha deverá sair do ciclo recessivo que se encontra, terminando o ano 2024 no sentido positivo.
O ano foi marcado pelo regresso da inflação , com as várias medidas de política fiscal e monetária a terem um impacto direto no consumo interno. Em especial pelo efeito da maior subida salarial dos últimos 30 anos, ao estarem indexados à inflação, promoveram um impulso relevante na recuperação da economia nipónica. Na componente corporativa, esta recuperação reflete-se nas perspetivas de crescimento das empresas, impulsionadas também pela recuperação da sua relevância no comércio global, nomeadamente com Coreia do Sul, Taiwan e EUA. A componente cambial também favoreceu os segmentos exportadores. Os setores melhor posicionados são os ligados à robotização, semicondutor, eletrodomésticos e químicos. O investimento na cibe segurança e digitalização também vai ter um impulso muito relevante com o primeiro-ministro Kishida comprometido em reforçar o investimento na segurança nacional.
Na China, a crise no imobiliário, um setor que representa cerca 30% do seu PIB, é o elefante na sala, e a maior preocupação das autoridades chinesas. Um setor com vários players em risco de default e com os preços das casas em queda. Adicionalmente, é uma economia que já não cresce ao ritmo das últimas décadas . Trata-se de uma sociedade mais envelhecida, cuja população ativa tem diminuído, pelo que tem como desafio reequilibrar o seu modelo de crescimento.
As autoridades têm introduzido alguns estímulos ao longo do ano, com algum impacto no curto prazo, mais propriamente sobre o consumo interno. Para o longo prazo, a intensificação de políticas protecionistas e o braço de ferro com os EUA deverá condicionar ainda mais as suas dinâmicas de crescimento.
Quem se encontra na crista da onda do crescimento, e aproveitar do abrandamento da China é a India e também alguns países do sudeste asiático, como por exemplo a Indonésia e Vietname. A India está a beneficiar da sua dinâmica de crescimento impulsionado pela sua demografia populosa, jovem e instruída que está a cativar muitas empresas globais a expandirem e diversificar as suas supply chains nas mais diversas indústrias em instalar nova capacidade no seu território.
Reiteramos a nossa preferência pelas quality growth , empresas com negócios robustos, fluxos de caixa resilientes ao ciclo recessivo, com elevadas barreiras à entrada e principalmente nas menos alavancadas, uma vez que as empresas com maior endividamento estão a ser as mais penalizadas pelos aumentos das taxas juro e pelo agravamento dos spreads de crédito especialmente nas que tenham de efetuar uma renovação mais célere das suas linhas de financiamento. Adicionalmente, as empresas tecnologicamente mais eficientes estão mais preparadas para evoluir a sua produtividade, estando assim mais bem posicionadas para preservar e até aumentar as suas margens, patenteando estas uma verdadeira arma contra a inflação.
No mercado emergente, as ações chinesas continuam muito pressionadas com múltiplos em mínimos históricos face às congéneres ocidentais, contudo preferimos aguardar pelo regresso da confiança por parte dos consumidores chineses. Em sentido oposto, estamos sobre ponderados nas ações indianas , uma economia que assume já o estatuto de maior contribuidor para o PIB mundial, sendo uma economia muito procurada pelo investimento estrangeiro e com um consumo interno em forte crescimento.
As obrigações, tiveram um desempenho muito positivo, apesar de muitas ainda transacionarem com yields superiores face às que iniciaram o ano. O efeito carry acabou por proporcionar rentabilidades muito interessantes neste ano. O próximo ano, promete ainda ser mais interessante com yields de partida elevadas , sem as incertezas do agravamento das taxas de juro do último ano e não menos relevante, a possibilidade de os bancos centrais iniciarem já em 2024 os cortes das taxas de juro. Portanto, entendemos que o downside pelo efeito risco de taxa de juro está muito limitado, assumindo que o risco de crédito vai passar a ser o mais relevante, daí aumentarmos a exposição das nossas carteiras a obrigações de maior duração e de maior qualidade de crédito.
No cenário que se avizinha de abrandamento, ou mesmo em algumas economias de recessão, os bancos centrais já vão assumindo que o atual nível de taxas de juro será suficiente para direcionar a inflação para a meta pretendida. Neste panorama, as yields que transacionam face à inflação esperada deverá proporcionar rendimentos reais muito positivos, conjuntura não observável na última década.
Num cenário verosímil de maiores complicações de crédito por parte dos vários agentes económicos, os bancos centrais poderão ter de antecipar o corte das taxas de juro, o que se traduzirá em rentabilidades muito interessantes nas obrigações mais correlacionáveis às taxas de juro sem risco. Posto isto, privilegiamos obrigações de empresas com elevada qualidade de crédito emitidas em moeda forte (EUR e USD), neste segmento já incrementámos em duração e em subordinadas.
Apesar de ainda não materializada e do mercado estar muito dividido quanto à sua concretização, observamos o risco de estagnação do crescimento económico nos EUA já muito implícito nos preços na generalidade dos ativos financeiros, sobretudo nos mais sensíveis a esta fase do ciclo. Adicionalmente, o conflito armado no médio oriente e a guerra na Ucrânia continuam sem solução à vista, para além do desastre humanitário, vão continuar a condicionar os vários fluxos comerciais. Não menos relevante, o protecionismo entre os 2 grandes blocos mundiais, China e EUA que deverão intensificar a tema da desglobalização, num ano marcado pela campanha eleitoral nos EUA com sufrágio a ter lugar no final de 2024 que promete intensificar estas entropias ao comercio global.
O próximo ano promete ser muito desafiante em termos económicos, nomeadamente pela materialização das recentes subidas das taxas de juro com forte impacto no consumo das famílias e no investimento das empresas.
Paradoxalmente, para os mercados financeiros, o cenário está menos incerto e mais otimista, uma vez que os investidores estão a antecipar uma redução dos juros americanos em até 1,5%, perante um abrandamento da inflação e da economia.
O ambiente de inflação nula e taxas de juro baixas ou negativas que presenciámos nos últimos anos promete estar definitivamente afastado, sendo aguardado para os próximos anos uma conjuntura de inflação normalizada e em que as obrigações proporcionem um rendimento acima da inflação.
Solução de investimento | 2023 | Desde início | Risco |
---|---|---|---|
PPR Agressivo | ▲ 20,7% | ▲ 4,5% | 5 |
PPR Ativo | ▲ 12,5% | ▲ 3,7% | 4 |
PPR Equilibrado | ▲ 9,7% | ▲ 2,9% | 4 |
PPR Moderado | ▲ 8,5% | ▲ 2,8% | 4 |
PPR Leopardo (cat. premium) | ▲ 10,6% | ▼ 1,0% | 6 |
Solução de investimento | 2023 | Desde início | Risco |
---|---|---|---|
Global Flexible Fund | ▲ 22,6% | ▲ 4,9% | 4 |
Europe Value Fund | ▲ 16,2% | ▲ 3,2% | 4 |
Global Bond Fund | ▲ 9,6% | ▲ 2,7% | 2 |
Invest Selection | ▲ 4,8% | ▼ 1,9% | 3 |
Disruption Fund (cat. Institucional) | ▲ 25,5% | ▼ 18,9% | 6 |
LFO Rise US (cat. Institucional) | ▲ 12,9% | ▼ 1,3% | 6 |
Portugal Golden Opportunities | ▲ 17,3% | ▲ 10,6% | 6 |
Solução de investimento | 2023 | Desde início | Risco |
---|---|---|---|
Selecção Defensiva (cat. B) | ▲ 3,8% | ▼ 0,2% | 4 |
Selecção Base (cat. B) | ▲ 5,1% | ▲ 1,3% | 4 |
Selecção Agressiva (cat. B) | ▲ 6,8% | ▲ 2,7% | 5 |
A informação apresentada tem efeitos meramente informativos e não constitui aconselhamento financeiro ou consultoria para o investimento. A Optimize não se responsabiliza pela alteração dos dados mencionados, imprecisões dos mesmos ou pela utilização que os leitores façam destes, nem pelos prejuízos que daí possam advir.