Com o apoio da Optimize, a Beatriz foi uma das representantes de Portugal no Campeonato Europeu de Xadrez na Turquia. Conheça em discurso direto, o que leva uma jovem a interessar-se pelo Xadrez e qual o balanço da sua primeira experiência internacional.
Comecei a interessar-me pelo xadrez porque via o meu irmão, três anos mais velho do que eu, a jogar e a participar em pequenos torneios.
Sim, lembro-me. Em casa, aprendi o nome das peças e como se posicionavam no tabuleiro, mas avançava-as sem conhecimento. Um dia fui com o meu irmão a uma aula xadrez, para experimentar, e gostei muito. Como era pequena, além do professor, houve vários meninos dispostos a jogar comigo. A partir daí, nunca mais deixei o xadrez. Passei a participar, sempre que podia, em torneios organizados pelo clube, pela escola que frequentava e/ou pela Associação de Xadrez de Setúbal. Nessa altura movia apenas as peças e não me importava se ganhava ou perdia. Na verdade, nessa altura, perdia quase sempre, porque os meus adversários eram mais experientes.
Comecei sem qualquer ambição, joguei e jogo por prazer, mas a partir do momento em que participei num Campeonato Nacional e fiquei em terceiro lugar, comecei a gostar dos títulos. Com o tempo, fui ganhando mais confiança e mais títulos e isso também me motiva a continuar.
Um jogador deve ter concentração, persistência e confiança em si próprio, contudo também é importante o seu trabalho individual e o treino regular, para garantir que consegue evoluir e estar preparado para enfrentar jogadores mais fortes.
Inicialmente, senti-me triste por não estar o mesmo nível que as outras jogadoras da Europa, mas agora consigo perceber que preciso de treinar e trabalhar mais para encontrar estratégias que me ajudem a melhorar e a evoluir como jogadora. Quero ser melhor e ultrapassar as minhas fraquezas. Nesse sentido, o balanco que faço é muito positivo, porque ao perder também aprendo.
A preparação começa com a pesquisa de partidas do jogador adversário. Se existirem, verifico a abertura com que inica o jogo e os lances de resposta mais frequentes. Ao analisar uma ou várias partidas, tento encontrar falhas do adversário e formas de me proteger. No entanto, isto só acontece se tiver conhecimento de quem é o adversário com alguma antecedência, caso contrário, preparo e reforço aquilo que já sei e com o que me sinto mais confiante a jogar.
Nesta competição, em particular, senti-me muito mais nervosa do que é habitual. Além disso, estar numa partida de xadrez que pode durar duas, três ou mais horas exige muita concentração. Perceber que se fez algo que pode pôr em risco a partida e que isso pode levar a uma derrota é um sentimento muito forte, mas é importante manter a calma para conseguir encontrar uma solução que permita mudar o curso do jogo. Não desistir, nem sempre é fácil, mas é necessário, porque até ao xeque-mate a partida não terminou.
A principal aprendizagem que consigo retirar é que preciso de trabalhar muito mais para competir a nível internacional. O que jogo e com quem jogo permite-me ter sucesso, mas percebi que fora de Portugal é mais difícil e vi que há quem treine ainda mais do que eu.
Desde que regressei a Portugal já voltei a jogar num torneio de xadrez e tenho mais dois opens agendados para o início de dezembro, um em Lisboa e outro em Santarém. Costumam participar jogadores muito fortes, por isso a competição é dura, mas isso permite-me evoluir.
Espero também participar em todos os Campeonatos Nacionais de Jovens, em Portugal, de todos os ritmos (rápidas, semirrápidas e clássicas). Estes são organizados pela Federação Portuguesa de Xadrez. O meu objetivo é voltar a ganhar os três títulos nacionais para poder repetir a experiência de participar no Campeonato Europeu de Jovens.
Os meus pais ponderam, ainda, levar-me a participar em torneios em Espanha.